terça-feira, 17 de março de 2009

Igreja pronta para seguir novas tecnologias

D. Manuel Clemente diz que é preciso aperfeiçoar o «estado online» para estar com o Evangelho no mundo digital 

O Vaticano espera que os Bispos estejam mais atentos às novas tecnologias, em evolução constante. Isso mesmo ficou claro num seminário que reuniu em Roma os responsáveis pela área das comunicações sociais nas diversas conferências episcopais, juntando representantes de 82 países. 
A iniciativa foi promovida pelo Conselho Pontifício das Comunicações Sociais (CPCS). Portugal foi representado por D. Manuel Clemente que, em declarações à Agência ECCLESIA, explica que este “foi um encontro com uma metodologia clássica mas que funcionou muito bem: ver julgar e agir”. 
“A comunicação eclesial e a comunicação social da Igreja é algo fundamental e deve ser alvo de uma aprendizagem e ensino cada vez mais consistentes”, admite este responsável, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais (CECBCCS). 
Ao longo de 5 dias, os Bispos foram desafiados a estudar a comunicação numa perspectiva “teológica e antropológica”, apontando “o que tem de ser para ser um acto eclesial” 
Ao estudo do que acontece no terreno, e que é diferente nos 5 continentes, com problemáticas próprias de acordo com o contexto social e eclesial, seguiu-se o debate sobre o agir “que foi muito prático”. 
“O Conselho Pontifício tem a intenção de publicar um documento, na sequência do que já estão publicados” pelo magistério da Igreja, refere o Bispo do Porto. Entre estes destaca-se o “Inter Mirífica” (1966), publicado no Concílio Vaticano II, e a “Aetatis Novae” (1992), do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. 
“Sente-se que agora, no séc. XXI e dado o incremente das comunicações sociais e das suas tecnologias, é necessário escrever algo de novo”, aponta D. Manuel Clemente. 
Segundo o presidente da CECBCCS, “o que se tornou muito óbvio é que hoje a comunicação social não pode ser usada em termos instrumentais. Tem de ser um ambiente em que trabalhamos e vivemos na Igreja”. 
Nesse sentido, não interessa que membros da Igreja, de forma “esporádica e vertical” e “de vez em quando”, apareçam na comunicação social, exponham as suas mensagens esperando depois que se faça o que lá comunicou. 
A Igreja “tem de ser comunicação”, afirma D. Manuel Clemente, e o que for dito, “tem de ser dito de forma testemunhal, não formal”. 
“Comunica-se de forma existencial”, acrescenta o Bispo do Porto. 
Para este responsável, que ultimamente tem sido notícia pela sua presença no canal de vídeo YouTube, a Igreja Católica quer considerar todos os meios de comunicação e quer estar presente nos grupos que se geram a partir das novas ferramentas de comunicação: “Todos esses meios são meios a considerar e onde nós devemos entrar, francamente”. 
“Os «nativos digitais» é assim que funcionam. Se queremos propor a mensagem do Evangelho, é aí que devemos estar”, aponta. 
Um conjunto de novas ideias, que D. Manuel Clemente pensa como concretizar na realidade da Igreja Católica em Portugal. Também pela experiência de participação regular nos meios de comunicação social (nomeadamente o Programa Ecclesia e a Rádio Renascença), participou nos trabalhos deste Congresso “reforçando a convicção de que a comunicação hoje não é um acto esporádico, mas tem de ser permanente”. 
A respeito de projectos a concretizar em Portugal refere que “tudo o que seja aperfeiçoar este «estado online» da Igreja é necessário”. 
O documento orientador do Vaticano sobre os novos desafios mediáticos, que deverá sair até final deste ano, tem como objectivo “introduzir a comunicação da Igreja no mundo do digital”. Isso mesmo afirmou o presidente do CPCS, Arcebispo Claudio Maria Celli, durante este seminário sobre o tema “Novas perspectivas para a comunicação eclesial. Mudanças na cultura e na tecnologia da comunicação: uma reflexão teológico-pastoral”. 
Segundo D. Celli, esta nova Instrução pastoral seria inspirada na “Aetatis Novae”, do CPCS, que foi publicada em 1992 com o intuito de situar as comunicações sociais no contexto cultural da época. 
Ocupar espaços 
Na iniciativa do CPCS, Angelo Scelzo, subsecretário deste Conselho Pontifícios, explicou que neste mundo dos media não há “espaços a reivindicar, mas campos em aberto por ocupar”. 
“Daqui surge a necessidade de uma mudança de mentalidade: a Igreja não tem necessidade de reivindicar um espaço próprio no mundo dos media, porque em larga medida tem diante de si um campo livre, no qual exercitar esta função essencial”, afirmou. 
É nesta linha que se deve ler, por exemplo, a presença do Papa no YouTube. 
“Quanto mais sofisticados são os instrumentos, e quanto mais dão vida – em conjunto – a um «sistema», tanto mais é necessário aprofundar e actualizar a formação”, diz Angelo Scelzo. 
A iniciativa, que recebeu o apoio do Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, aconteceu num momento em que o próprio Papa, numa carta enviada aos Bispos de todo o mundo, reconhece que ele próprio e a Santa Sé devem compreender a nova importância que a Internet assumiu. 
O Cardeal Bertone reconheceu que um novo documento de orientação pastoral para o compromisso comunicativo da Igreja é necessário, pois o último texto destas características, "Aetatis novae", foi publicado em 1992. 
“Os 17 anos anos decorridos – disse – representam um longo parênteses para os ritmos de desenvolvimento e de crescimento dos meios de comunicação; é o período em que amadureceu uma série de pequenas e grandes revoluções que, como uma corrente contínua, transformaram radicalmente o panorama preexistente”. 
O número dois do Papa recordou que na mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, celebrado em Outubro passado no Vaticano, se sublinhava que “a voz da Palavra divina tem de ressoar também através do rádio, das artérias informáticas da Internet, dos canais de difusão virtual em linha, os CD’s, os DVD’s, os podcasts, etc”. 
Na última sessão do seminário, os grupos de trabalho dos bispos apresentaram propostas para a redacção do esboço do futuro documento. O Arcebispo Claudio Maria Celli, revelou aos presentes que o CPCS começará agora a redacção destas propostas para apresentar um primeiro texto provisório na segunda metade de Outubro aos membros e consultores deste organismo da Cúria Romana, reunidos em plenária. 
D. Paul Tighe, secretário do Conselho, revelou que este será um “documento vivo, adaptado aos dias de hoje, mas com o olhar posto no futuro”. Tanto os bispos como os representantes do Conselho consideram que este documento deve contar com a contribuição dos jovens, os “nativos digitais”.

In Agência Ecclesia| 14/03/2009 | 13:37 | 6720 Caracteres | 422 | Comunicações Sociais

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